segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Inácio Ferreira de Oliveira foi um grande trabalhador espírita. (Médico psiquiatra dirigiu por muito tempo o Sanatório Espírita de Uberaba)
Desencarnado em 1988 vem, através da psicografia, nos dar esse importante alerta.

Irmãos e irmãs, o que vale no Espiritismo é o que você faça dos conhecimentos que for adquirindo nele. O resto – acredite –, não conta muito.
Quando desencarnei, ninguém queria saber qual era o meu nome, endereço, tampouco os títulos que eu possuía – aliás, ninguém queria saber nada de mim, nem me perguntava coisa alguma.
A minha consciência é que, insistentemente, me pedia contas.
A bem dizer, a minha condição de espírita nada significava, e nem significa até hoje.
Sem a intenção de ser redundante, o que vale é o valor – o seu valor pessoal, sem rótulos, ou faixas, de qualquer espécie.
Deste Outro Lado, a única coisa capaz de lhe valer é o seu currículo – o seu currículo de bondade! Porque, no fundo, é isto que irá proporcionar a você alguma réstea de luz, para que, mesmo caminhando na escuridão, consiga evitar o abismo...
Não cometa a tolice de imaginar que, na Vida de além-túmulo, o espírita possa ser tratado com deferência. Privilégio, ou o famoso “jeitinho” brasileiro, é algo que por aqui não existe!
Chico Xavier dizia, e com razão, que os espíritas estavam desencarnando mal – estavam, e, em geral, ainda estão!
Sinceramente, o único predicado que eu invejo numa pessoa, seja ela qual for, é a bondade! Depois que a gente larga a carcaça, para quem  é realmente bom, aqui todas as portas se abrem, e todos os caminhos se desimpedem! Em vez de ele pedir audiência com os anjos, são os anjos que pedem audiência com ele!...
Por isto, eis o conselho que lhe dou: teorize menos, e procure servir mais!
O mundo é um caldeirão que ainda vai continuar fervendo durante muito tempo... É possível que você vá desencarnar e tornar a reencarnar nele, encontrando amanhã quase tudo como está agora.
De uma encarnação a outra, o espírito melhora muito pouco... A evolução, para quem não se conscientiza, acontece quase que a passo de lesma – dessas que deixam o seu rastro gosmento no chão!
Não creia ser diferente.
Não estou querendo desanimar a quem seja, mas, se você se interessa pela Verdade, ei-la aqui de maneira nua e crua.
“Nosso Lar”, a colônia espiritual que muita gente na Terra almeja habitar, tem muito mais católicos, protestantes, umbandistas, e até mais ateus, do que espíritas...
Não, não se creia o suprassumo, porque você não o é!
Como é que eu posso dizer isto?! Ser espírita é só acréscimo de responsabilidade espiritual – nada mais do que isto. O que nós já sabemos é mais que suficiente para que, pelos nossos erros, a nossa consciência nos penitencie por muitas e muitas encarnações.
Conheço muita gente que não quer saber o que a gente sabe só para não ter que responder pelo que respondemos, ou responderemos.
Deixe, pois, de professar o Espiritismo como quem toca um clube de futebol, ou um partido político.
Enquanto é tempo, pare de fazer “guerra santa” – contra os outros, e contra os próprios companheiros que você considera equivocados!
Guardião da Doutrina, você?! Ora! Aceite os meus pêsames...
Cuide-se, porque a morte lá vem chegando, e ela é uma locomotiva, que, para atropelá-lo, não pedirá licença!...

Inácio Ferreira
Uberaba – MG, 22 de julho de 2013.

domingo, 22 de dezembro de 2013

Abnegação


Onde a obrigação termina, começa a abnegação
“Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.”
Jesus (Lucas, 17:10.)


O verdadeiro discípulo do Cristo não conhece a acomodação e tampouco a preguiça...  Tem sempre “ligeiros os pés” e disposição constante para as tarefas do Bem.  Não se contenta tão-somente em cumprir suas obrigações e deveres rotineiros, mas vai além, dá sempre um tanto mais de seu tempo e de seus talentos...

No livro de Emmanuel, psicografado por Chico Xavier, intitulado “Pensamento e Vida”, no capítulo 17, “o nobre Mentor define a palavra abnegação como aquela cota de serviço que se faz além da obrigação, visto que onde termina o dever, aí começa a abnegação”.
O Espírito de Verdade ensina: “(...) A abnegação e o devotamento são uma prece contínua e encerram um ensinamento profundo. A sabedoria humana reside nessas duas palavras. Tomai-as, pois, por divisa: devotamento e abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos os deveres que a caridade e a humildade vos impõem”.
Sobre o auxílio espontâneo, a doce Meimei conta que “(...) Um homem, desejando aprender como colaborar na construção do Reino de Deus, pediu ao Senhor o discernimento para compreender os Propósitos Divinos, e saiu para o campo...   
De início, encontrou-se com o Vento que cantava e o Vento lhe disse: Deus mandou que eu ajudasse as sementeiras e varresse os caminhos, mas eu gosto também de cantar, embalando os doentes e as criancinhas.
Em seguida, o homem surpreendeu uma Flor que embalsamava o ar com seu inebriante perfume, e a Flor lhe contou: Minha missão é preparar o fruto; entretanto, produzo também o aroma que perfuma até mesmo os lugares mais impuros.
Logo após, o homem estacou ao pé de grande Árvore, que protegia um poço d`água, cheio de rãs, e a Árvore lhe falou: Confiou-me o Senhor a tarefa de auxiliar o homem; contudo, creio que devo amparar igualmente as fontes, os pássaros e os animais.
O visitante fixou os feios batráquios e fez um gesto de repulsa, mas a Árvore continuou: Estas rãs são boas amigas. Hoje posso ajudá-las, mas depois serei ajudada por elas, na defesa de minhas raízes, contra os vermes destruidores.
O homem compreendeu o ensinamento e seguiu adiante, deparando com uma grande cerâmica.  Acariciou o Barro que estava sobre a mesa e o Barro lhe disse: Meu trabalho é o de garantir o solo firme, mas obedeço ao oleiro e procuro ajudar na residência do homem, dando forma a tijolos, telhas e vasos.
Então, regressando ao lar, o homem compreendeu que, para servir na edificação do Reino de Deus, é preciso ajudar os outros, sempre mais, e realizar, cada dia, algo mais do que seja justo fazer”.
Se conforme o ensino dos Espíritos Superiores receberemos, pelo cêntuplo, tudo que fizermos, quão afortunado não será aquele que, não se restringindo apenas ao âmbito do dever, o extrapola, percorrendo, a largos passos, o terreno fértil da abnegação!...


Rogério Coelho
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, MG (Brasil) 

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domingo, 15 de dezembro de 2013

Marcante presença


Modificam-se os ares e o mês de dezembro traz novamente um encantamento no ar. Mais do que os apelos comerciais próprios do mês e das luzes externas que brilham nas casas, é marcante a presença do Cristo diante das lembranças e evocações mentais em torno de seu nome. Todavia, estes não são tempos diferentes daqueles de sua vinda.  
A violência e a crueldade assolam as vidas humanas, nos grandes centros e pequenas cidades. Sua presença permanente e vivo amor inspiram, contudo, o surgimento de sentimentos novos. Venceu-se a descrença, a crueldade, a indiferença. Mas não em todos. Muitos ainda não O conhecem e isto tem gerado esses quadros que atormentam e preocupam...  
Surge, então, o único caminho para contagiar aqueles que desconhecem as brisas do amor verdadeiro: o exemplo da confiança irrestrita. Naqueles tempos em que esteve conosco, totalmente incompreendido, seus seguidores eram barbaramente assassinados, sacrificados em espetáculos dolorosos, atados a postes onde recebiam azeite fervente; jogados para serem devorados por feras famintas; esquartejados ou atirados em celas úmidas, escuras, imundas... Perseguidos e espezinhados, se fortaleceram na fé. 
Hoje não é diferente. As sombras da insensatez ainda dominam, desesperadas, porém, por verem a perda de domínio. Amadurecidos, já conseguimos perceber que a fé raciocinada, a confiança em Deus, o amor ao próximo (aí incluídos o respeito à diversidade, aos limites individuais e à solidariedade que socorre), ao lado de uma conduta ética e solidária nos leva a vencer os tremendos e inesperados desafios que surgem todo dia. A adesão individual a estes nobres princípios farão o contágio que conquistará os que ainda se perdem nos tormentos e desequilíbrios que os afligem... , pois são enfermos os algozes, os causadores de sofrimentos.
Recordando a força moral do apóstolo Paulo e por amor a Ele, Jesus, o Mestre da Humanidade, ergamos a cabeça nesses momentos de tantas dificuldades morais. Na ocorrência repetida do Natal, ao invés das luzes externas que enfeitam as casas e o comércio, deixemos brilhar a luz do amor internamente, nas atitudes solidárias, tolerantes, compreensivas e especialmente naquelas que respeitam as diferenças ou a liberdade de opção pelo estilo de vida. 
O melhor presente para o aniversariante é pensar Nele com gratidão. É principalmente atender seu eterno convite de melhoria individual e de auxílio ao próximo. Jesus não permanece na cruz. Ele está presente, atuante, amparando. Sua missão é conduzir a humanidade. E seu amor é abundante. Seus ensinos, conduta e exemplos marcantes personificam o verdadeiro amor, o amor harmonia, o amor equilíbrio, o amor sintonia, o amor que educa, ensina, encaminha, que não escraviza, nem exige. É o fardo leve, o jugo suave, o caminho, a verdade e a vida... Sua doce influência contagia a vida de alegrias verdadeiras, indicando-nos os caminhos do perdão, da tolerância e da solidariedade. 
Podemos oferecer-lhe três presentes, neste aniversário: a) o bom ânimo (sejamos animados com a vida); b) o bom humor (vamos enfrentar as dificuldades com sorrisos e bom humor) e c) a boa vontade (como ele demonstra para conosco). Jesus, modelo e guia para a humanidade. Mestre e educador, exemplo e roteiro. Que estejamos todos com Ele.

Orson Peter Carrara 

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Um dia de Buda


Fruto de um acidente doméstico, Aristeu teve parte de seu corpo queimado. Foi grande a dor na hora e insuportável depois, entre bolhas e o medo da infecção e do estigma das cicatrizes.
Aristeu, que levava uma vida pacata e tranquila, se viu às voltas com os efeitos daquele acidente doméstico, que mobilizou família e amigos na assistência ao bom companheiro. Após o atendimento emergencial, restou a ele dar continuidade ao seu tratamento em um hospital especializado em queimados, onde, dia sim e dia não, ele seguia o rito de pomadas e de unguentos, na troca de curativos sob o olhar atento dos profissionais de saúde.
Na fila de espera, na antessala dos ambulatórios, Aristeu observava atentamente que havia casos piores que o seu. De cada dor, de cada caso narrado, descobria o sofrimento de seu irmão desconhecido, que ele ignorava no conforto do seu lar, vendo o mundo e suas agruras apenas pela tela da televisão.
Assim seguiu o tratamento de Aristeu, que tratou seu corpo e a sua alma, que foi se iluminando à medida que via, no olhar do seu irmão, dor maior do que ele jamais imaginava sentir. Nas queimaduras cicatrizadas nasceu uma nova pele. No seu espírito, regenerado, nasceram novas convicções e visões de mundo.
Assim, nos isolamos do mundo, longe de suas realidades, e quando o destino nos empurra para fora dos muros de nossos palácios, nos defrontamos com a doença, a morte, a pobreza e toda sorte de provações.
A ideia de nos pouparmos do mundo, de seus desafios, nos impede de crescer. Preferimos o paraíso da redoma, crer que o mundo seja uma propaganda de refrigerantes, com jovens sorridentes, para se debulhar em lágrimas nos dramas das telenovelas, concluídos com um apertar de botões.
O mundo não e só dor e sofrimento... O mundo não é só alegria esfuziante... O mundo é um mosaico de histórias e desafios, de sorrisos e lágrimas, que nos conduzem a um processo de amadurecimento como Espíritos, na bendita escola que chamamos de planeta Terra.
Negar a dor do próximo não nos isenta do compromisso com os nossos irmãos. A chaga mais proeminente nos dias de hoje, o individualismo, nos leva ao isolamento em castas econômicas, nas quais ignoramos os desafios alheios e deixamos de aprender com isso.
Essa discussão nos conduz a uma profunda reflexão, de como conduzimos nossos trabalhos assistenciais na seara espírita. Que indicadores estabelecemos para classificar esses trabalhos como satisfatórios? Seria a quantidade de bolsas distribuídas? O volume de recursos arrecadados? Será que esquecemos nesse sentido o valor da troca, do olhar, do abraço? A importância do trabalho no bem está no aprendizado profundo do abraço que damos no nosso irmão em dor!
Em hipótese alguma defendo aqui o turismo da caridade, emblemático na visita às comunidades cariocas pelos estrangeiros, como um safári da pobreza. Defendo a nossa interação interventiva e pessoal no trabalho do bem, de forma a falarmos e ouvirmos, nas visitas a hospitais, orfanatos, asilos e toda sorte de instituições que concentrem pessoas necessitadas, tanto quanto nós necessitamos de ouvir aquela palavra de resistência e luta, diante das provas mais agudas, que virão, ou que nos atormentam.
Sidarta Gautama, o Buda, criado no luxo e na opulência, teve a sua iluminação ao sair de suas suntuosas dependências para encontrar as dores humanas. Aristeu também nasceu de novo, reformulando a sua disposição diante da vida. De cada experiência, de cada dor, colhemos o aprendizado, mas ofertamos também a palavra amiga e o sorriso de esperança, em um exercício permanente de amor, na interação com o próximo.

A nossa iluminação se faz quando rompemos as paredes que nos isolam do mundo, no encontro do próximo. Às vezes, precisamos de dias de Buda para refletir sobre essa realidade. Precisamos trabalhar o nosso coração, torná-lo robusto no amor, um exercício que se faz no encontro com o outro, na alegria e na tristeza. 

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
Brasília, DF ( Brasil ) 

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domingo, 1 de dezembro de 2013

“As estruturas de raciocínio lógico da Ciência e da Doutrina Espírita são equivalentes”


Doutor em Física vinculado ao Instituto de Física da USP São Carlos, o confrade goiano fala sobre os pontos de ligação existentes entre a Ciência convencional e o Espiritismo. 

Otaciro Rangel Nascimento (foto), nascido em Goiânia-GO e residente em São Carlos-SP desde 1978, é graduado em Física pela Universidade Federal de Goiás, possui Mestrado e Doutorado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e trabalhou na PUC-Rio até final de 1977. Atualmente vincula-se ao Instituto de Física da USP
São Carlos, como professor e pesquisador Senior. Espírita desde 1962, é palestrante muito conhecido e está integrado à casa espírita Obreiros do Bem, na cidade onde reside. Submetemos ao amigo uma análise sobre os temas que trazemos na presente entrevista. 

Como definir a ciência? 

A ciência é o conhecimento ou um sistema de conhecimentos que abarca verdades as mais gerais e abrangentes possíveis bem como a aplicação das leis científicas derivadas, obtidas e testadas através do método científico. Nestes termos, ciência é algo bem distinto de cientista, podendo ser definida como o conjunto que encerra em si o corpo sistematizado e cronologicamente organizado de todas as teorias científicas, bem como o método científico e todos os recursos necessários à elaboração delas. 

E como situar o cientista?

O cientista é um fator essencial à ciência, e como qualquer ser humano, dotado de um cérebro imaginativo, criativo, crítico e também com sentimentos e emoções. O cientista certamente também tem suas crenças – convicções que podem ir além da realidade tangível, podendo mesmo ser, não raramente, um religioso convicto. Ao definirem-se ciência e cientista é relevante ressaltar que em seus trabalhos científicos saiba manter suas crenças separadas de seus artigos científicos e das teorias científicas com as quais trabalha; constituindo-se estes dois elementos – ciência e cientista – certamente muito distintos.

Como vincular os esforços da ciência, no conjunto dos conhecimentos e ativa presença dos cientistas, diante da realidade de tantas divergências de interpretações e visão dos fatos?

O cientista, quando elabora um trabalho científico, só consegue sua publicação depois de ter seu trabalho analisado e criticado por dois, três ou mais cientistas da área de seu conhecimento e recebido deles opinião unânime da boa qualidade de seu trabalho. Desta maneira as divergências nos trabalhos científicos são minimizadas. Entretanto, quando algum resultado é apresentado como surpreendente, provoca debates acirrados na comunidade científica até que todos os aspectos referentes ao tema sejam de aceitação geral pela comunidade científica. Para isto são realizados os congressos internacionais de Ciência em cada uma de suas áreas de atuação com frequência anual, bianual ou maior período. Por esta razão a Ciência se desenvolve de uma maneira relativamente harmônica.

Como ficamos com a ciência diante da revelação espírita?

Neste sentido diríamos que o escopo ou paradigma da Ciência é ainda a Matéria e não o Espírito. Sendo assim, não podemos esperar a palavra da Ciência em favor da realidade espiritual e muito menos da Revelação Espírita. No entanto do ponto de vista do Cientista já encontramos muitos esforços no sentido de trabalhar a hipótese do Espírito em algumas áreas do conhecimento científico, como a Neurociência. É um ponto de curiosidade científica se a consciência está no cérebro ou fora dele. Se o pensamento é uma forma de energia que se transmite entre mentes e ou cérebros. Se as possibilidades paranormais justificam ou não a existência do espírito como independente da matéria. De minha parte tenho certeza que estas iniciativas científicas vão abrir as portas da realidade espiritual e o pensamento científico se ocupará delas em futuro muito próximo. 
      
E como situar a revelação espírita perante a ciência?

No estudo da Revelação Espírita entendemos claramente a intenção do Mundo Espiritual, em face do adiantamento da humanidade terrena, que ela, a Revelação Espírita, veio no momento certo para convidar as almas mais preparadas para antecipar e trabalhar a concepção humana na direção da realidade espiritual até então esquecida pelo homem sensorial. De fato ela é uma Revelação Espiritual partida do Mundo Espiritual e que contou com o trabalho de homens maduros e sérios que cultivavam o conhecimento científico na época de seu surgimento, e que, por isto mesmo, perceberam a sua lógica racional e a veracidade dos fatos hoje conhecidos como mediúnicos, como autênticos e verdadeiros. É de se salientar a presença do Professor Rivail, ou senhor Allan Kardec, como a mente lúcida e o sentimento equilibrado que pôde sistematizar as informações espirituais que lhe chegaram por diferentes médiuns e grupos estudiosos e dar um corpo doutrinário a estas informações de uma forma didática e logicamente estruturada. Por esta razão ele é o Codificador da Doutrina Espírita e uma regra importante que ele usou anda meio esquecida pelos continuadores espíritas de nossa época que é: Uma informação nova só pode ser incorporada à Doutrina Espírita se ela passar pelo caráter da universalidade dos ensinos dos Espíritos. A Ciência, enquanto não incorporar em seu paradigma a possibilidade do Espírito, não se ocupará da Revelação Espírita, mas cresce o número dos cientistas que se ocupam com a realidade espiritual.

Que pensar sobre a opinião de um pesquisador de qualquer área da ciência perante os conhecimentos que gradativamente se acumulam na humanidade, inclusive a revelação espírita, face à diversidade de entendimento e amadurecimento de cada um? Especialmente se considerarmos os hábitos, crenças e condicionamentos humanos?

É importante neste aspecto não perder de vista que a opinião de uma pessoa, seja ela cientista ou não, não passa de uma opinião pessoal que, para ser considerada, precisa ser analisada com critérios da lógica e da sua inclusão dentro de outras opiniões que a corroborem como digna de ser levada a sério. Senão incorreremos na formação de correntes de pensamentos que não se suportam a si mesmos, mas que são capazes de angariar apoio de pessoas menos cautelosas e criar com isto desenganos que podem levar ao sofrimento muitas pessoas. Hoje com a internet isto tem acontecido com muita intensidade, pois que muitas pessoas acham que se está na internet é verdade. Veja por exemplo o ocorrido recentemente com as interpretações errôneas do calendário Maia. Para evitar tais acontecimentos, busquemos conhecer com mais profundidade os indivíduos que se apresentam como pesquisadores e atentemos para a seriedade de suas opiniões.

Em sua opinião, qual a maior contribuição do Espiritismo para a Ciência no geral?

Como disse anteriormente, a Doutrina dos Espíritos codificada por Allan Kardec veio abrir portas para uma realidade esquecida pelo homem de Ciência e para os desenganados das religiões, convidando o homem sério a buscar o conhecimento da realidade Espiritual. Assim como a Ciência delineia as Leis do mundo sensorial para o nosso conforto material transitório, a Doutrina Espírita delineia as Leis Espirituais para o nosso conforto interior como seres espirituais permanentes. Ela nos ajuda a compreender os verdadeiros objetivos da Ciência e da própria vida terrena.

Quais os principais pontos de ligação entre a ciência convencional, com suas pesquisas e busca do entendimento dos fatos na formulação de leis e princípios, e o Espiritismo?

Já o disse anteriormente. Os pontos de ligação estão justamente nos métodos de análises utilizados por ambas. A Doutrina Espírita é uma ciência de observação e como tal não podemos ter domínio sobre os fatos, pois que os Espíritos têm vontade própria e não se submetem ao mando do cientista. Neste sentido ele é parecido com a Astronomia cujos fatos são observados, mas não realizados em laboratório, como outras áreas da Ciência material. 

Há algo marcante em suas reflexões pessoais que gostaria de relatar?

Gostaria de deixar claro aqui minha opinião como cientista e espírita. O estudo da Ciência e da Doutrina Espírita para mim são recursos educadores de minha alma. As estruturas de raciocínio lógico da Ciência e da Doutrina Espírita são equivalentes, e o entendimento de uma e outra me ajuda a viver com mais equilíbrio e serenidade. Saber-se imortal e saber que aprenderei sempre é uma grande felicidade. 

Qual sua visão acerca do panorama atual de conhecimentos humanos frente ao avanço do pensamento espírita?

O panorama atual da humanidade é de conflito entre o egoísmo individual e coletivo com os anseios de um mundo mais justo e generoso. A Humanidade está internamente dividida entre o sofrimento de muitos e a vantagem de poucos. A Ciência e a tecnologia facilitam a vida do homem, mas os homens dificultam a vida uns dos outros por falta de uma visão de solidariedade e amor. Aquele lema da Revolução Francesa de mais de duzentos anos – Liberdade, Igualdade e Fraternidade – não aconteceu ainda entre os homens. Todos ansiamos por este lema, mas não sabemos executá-lo por falta da convicção da nossa realidade espiritual permanente e evolutiva. Neste sentido só a Doutrina Espírita pode solucionar este conflito. Por esta razão estão certos os Espíritos: a prática e divulgação da Doutrina Espírita é a maior caridade que podemos fazer neste momento de transição. 

Algo mais que gostaria de acrescentar?

Estou feliz por poder dizer àqueles que nos leem que podemos juntos mudar o mundo para melhor, começando por mudar a nós mesmos, já que não podemos dar aquilo que ainda não temos. Unamo-nos em torno de um ideal comum que é nos tornarmos uma única família sob a égide de um mesmo patrono que para mim representa o modelo de homem ideal: Jesus.

Matéria extraída da Revista Eletrônica: O consolador

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Kardec, a biografia – um livro bom de se ler


Não direi que o livro Kardec: a biografia é uma grata surpresa, porque quem escreveu a melhor biografia de Chico Xavier, até hoje, prometia escrever também a melhor do mestre de Chico e de milhões de espíritas brasileiros: Allan Kardec. 
Por que considero ambas excelentes biografias? Porque são biografias mesmo e não hagiografias. (Para quem não sabe, hagiografia é história de santo, escrita dentro dos cânones da Igreja Católica). Marcel Souto Maior conta a história de um ser humano. De um grande ser humano, mas um ser humano. Um homem de bem, que é o que O Evangelho segundo o Espiritismo propõe como padrão ético. E conta muito bem contado. 
Seu estilo é leve, sem cair na banalidade. É espirituoso e às vezes oportunamente irreverente, justo para não assumir um tom laudatório demais, o que acabaria com a sua credibilidade de biógrafo e jornalista investigativo. É um texto saboroso, ágil e que nos dá vontade de ler sem parar. 
Souto Maior soube tratar de um assunto delicado, sem ferir nenhum partido; de um assunto sério, sem cair numa doutrinação massacrante e antipática. 
Acima de tudo, porém, é fiel aos fatos. E sendo fiel aos fatos, a grandeza do personagem se destaca naturalmente, sem a mínima necessidade de usar uma batelada de elogiosos melosos. 
Aliás, o que se sobressai na biografia escrita por Souto Maior é o Kardec da Revista Espírita. Quem está familiarizado com os 12 volumes da Revista, conhece melhor a personalidade de Kardec, seus embates, seu contexto, seus diálogos e discussões com adversários e aliados, com admiradores e detratores. O autor soube compor não só a partir da Revista, mas de outros documentos, um mosaico bem montado de Kardec, seu trabalho e sua época, que nos permite nos sentirmos lá, na França do século XIX. 
É claro que para alguns puristas, que prefeririam uma hagiografia, o fato de Kardec na biografia se irritar, se cansar, se alegrar e usar de uma fina ironia (e usava mesmo com todo o requinte do esprit francês) pode parecer algo humano demais. Mas grandes homens também se irritam e se cansam. Com essa constatação óbvia, em absolutamente nada sai arranhada a personalidade de Kardec e o que ele propôs como Espiritismo. 
É claro que não se trata de uma obra filosófica e por isso não discute a fundo alguns pontos que poderiam ser polêmicos e assim não é um livro que sai dos cânones do Espiritismo brasileiro atual. Mas a postura crítica, racional e vigilante que Kardec tinha em relação à mediunidade é muito bem retratada e, mesmo sem querer, serve de alerta para esse movimento, que perde muitas vezes qualquer critério de análise do que supostamente vem do Além. 
Quando me refiro aos cânones do Espiritismo brasileiro atual, estou falando de coisas que já estão assentadas entre nós e não me parecem que sejam tão fiéis a Kardec. Por exemplo, o termo “codificador”, que tenho criticado e que não aparece em nenhuma obra da Kardec. Aparentemente, trata-se de algo criado aqui no Brasil e que ressalta o caráter do mestre como mero organizador de uma revelação pronta ou mero secretário dos Espíritos. Tenho pontuado que, apesar de sua modéstia, o próprio Kardec reconhecia em si mesmo um papel mais ativo e criativo nessa relação com os Espíritos. Diz ele em Obras Póstumas:

“Conduzi-me, pois, com os Espíritos, como houvera feito com os homens. Para mim, eles foram, do menor ao maior, meios de me informar e não reveladores predestinados.”

E na Gênese:

“O homem concorre para a revelação com o seu raciocínio e o seu critério; desde que os Espíritos se limitam a pô-lo no caminho das deduções que ele pode tirar da observação dos fatos. Ora, as manifestações (...) são fatos que o homem estuda para lhes deduzir a lei, auxiliado nesse trabalho por Espíritos de todas as categorias, que, de tal modo, são mais colaboradores seus do que reveladores, no sentido usual do termo.”

Ou seja, como estudei em minha tese de doutorado na USP, que virou depois o livro Pedagogia Espírita, um projeto brasileiro e suas raízes, Kardec criou um novo paradigma para conhecermos o mundo, que inclui uma dimensão espiritual. E esse método de estudar os fenômenos que evidenciam a imortalidade de alma é algo criado por Kardec e não pelos Espíritos. O livro de Souto Maior não desmente isso, aliás chega perto de demonstrar através de sua narrativa essa proposição que fiz. Mas não é seu objetivo, e nem poderia ser, discutir altas questões epistemológicas. 
Um único reparo histórico que tenho a fazer no livro, um descuido talvez: Victor Hugo, quando se interessou pelas mesas girantes e manteve diálogos com os Espíritos, inclusive o de sua filha, não estava em Paris, como afirma Marcel. O grande escritor francês estava exilado na ilha de Guernsey, por conta de sua oposição ao governo de Napoleão III, que ele chamava de Napoléon, le petit (Napoleão, o pequeno). 

Gostei particularmente dos dois últimos capítulos do livro, que estão muito bem articulados. O penúltimo trata do processo dos espíritas (aliás, num erro de digitação ou num engano de tradução aparece como “processo dos espíritos”), em que o juiz Millet destrata Amélie, já idosa, e lança de uma ironia agressiva e injusta contra a personalidade de Kardec. E Souto Maior nada responde. Mas insere no último capítulo a resposta final: um texto do mestre, que considero um dos mais bonitos, porque revela algo de sua intimidade e que só apareceu em Obras Póstumas, em que ele descreve a si mesmo, fazendo um balanço de sua vida de homem de bem. Essa é a melhor resposta para o Juiz furioso e para todos aqueles que ainda denigrem Kardec. Um texto em que o mestre se analisa com toda a simplicidade como um pessoa interessada em fazer o bem e promover a felicidade alheia.

Dora Incontri 

Imagem é do livro

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Em 150 anos


Supondo que os Espíritos superiores que conduzem o destino do planeta Terra resolvessem, em um período de 150 anos, renovar os Espíritos aqui encarnados, façamos um exercício mental, um aprendizado pela imaginação e pensemos como seria esse cenário...
Assim, a cada Espírito encarnado, a Terra receberia um Espírito altamente evoluído, de forma que no espaço de um século e meio teríamos sobre a superfície terrestre somente Espíritos iluminados, de escol, criando um processo de regeneração induzida.
A nova Terra teria habitantes preocupados com as questões sociais, onde uma criança faminta mobilizaria mais a opinião pública que uma partida de futebol. O saber e a fraternidade seriam exaltados e o respeito, ah, esse seria um valor sentido nas ruas.
O meio ambiente seria preservado de forma consciente, por cada um, e o consumo não seria um fim e sim um meio da vida digna e justa, com os direitos fundamentais a orientar o caminho de cada irmão.
O preconceito, a competitividade, a violência cederiam lugar a outras formas de resolução de conflitos, baseados na cooperação e no diálogo. Cada um cresceria em valores e potencial, pensando no coletivo, nos desvalidos, e na criação de coisas que melhorassem a vida humana.
A escola cederia lugar à prisão, o livro preencheria o tempo ocioso e o sorriso campearia as relações, de maneira profunda, de forma que cada um seria tratado como um irmão em humanidade. As guerras se extinguiriam, as armas seriam aposentadas e a dor, natural da vida humana, seria vista como um instrumento de reflexão, de aprimoramento moral.
Passada a transição de 150 anos, na qual os Espíritos mais amadurecidos substituiriam os aqui encarnados, os desafios da vida humana nesse mesmo planetinha azul seriam superados pelo esforço contínuo e integrado de todos, tornando a existência mais afável e mais fraterna. Assim, essa geração nova comprovaria que é possível um mundo melhor.
Utopia? Certamente... Mas uma utopia que nos ensina que grande parte dos problemas do ser humano encarnado advém da sua conduta moral, de sua falta de amor e da sua imperfeição, tendo a regeneração esperada sentido apenas quando falamos de uma reforma íntima, que construa em cada coração o mundo novo, dado que essa luta é nossa.
A cada dia, como Espíritos encarnados no orbe terrestre, somos convidados a fazer diferente. Pelas nossas escolhas, a cada encarnação, a cada dia, a cada minuto, trazemos em nossas mãos e em nossas ideias as possibilidades de um mundo melhor. Podemos, a cada dia, tornar a Terra regenerada, como o sal da Terra e a luz do mundo.
Em 150 anos, em uma ação radical, com a substituição da escalação atual, poderíamos virar totalmente o jogo. Mas não é isso que esperam de nós Jesus e os outros Espíritos superiores que velam pela nossa comunidade. Eles esperam de nós, sujeitos dessa existência, a mudança que permita a transformação de sombras em luz, pelo expurgo do mal que resiste em habitar em nós.
Ao reclamarmos de Deus, do destino, da natureza, do azar..., lembremos da nossa posição do planeta. Olhemos para fora, para a janela, e vejamos tudo de bom que a nossa civilização construiu, bem como todas as mazelas que nós arrastamos. Superamos distâncias pela internet e ampliamos a expectativa de vida em muitos países, mas amargamos ainda a fome, a ignorância, a miséria, o preconceito, a guerra, a nos envergonhar na categoria humana.
Não, apesar de nosso exercício mental, Deus e os Espíritos superiores não vão nos substituir na Terra, colocando aqui um time de notáveis. O embate é nosso, a ser travado na escola da encarnação. Se quisermos o bem, devemos trabalhar por isso, enxergar que, enquanto o mal campear, não seremos plenamente felizes nesse mundo e que isso não implica, no entanto, em nos sentarmos, acomodados, esperando o bem que virá.
A hora é agora, e o momento de agir é sempre e cada minuto é uma oportunidade ganha ou perdida de vencermos as nossas lutas interiores e as batalhas coletivas. Fugir disso é aguardar dormindo o juízo final, um paradigma que Kardec nos deu elementos para superá-lo.
Fora da caridade não há salvação... Reconhece-se o espírita pelo seu esforço... Meus discípulos serão reconhecidos por muito se amarem... A nova era não virá. Será construída por nós, e isso, amigos, é mais que uma dádiva.
  
Marcos Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil) 

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domingo, 27 de outubro de 2013

É o Espiritismo uma ciência?


De vez em quando discute-se na imprensa espírita se o Espiritismo pode ser considerado efetivamente uma ciência, como Kardec o conceituou em conhecida passagem constante do livro O que é o Espiritismo.

Recordemos o que o codificador da doutrina espírita escreveu:

“O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações.
Podemos defini-lo assim: O Espiritismo é uma ciência que trata da natureza, origem e destino dos Espíritos, bem como de suas relações com o mundo corporal.” (O que é o Espiritismo – Preâmbulo.) (Grifamos.)
Recentemente, em carta publicada nesta revista, um leitor afirmou que a doutrina espírita não pode ser considerada religião, porque não tem ritos nem dogmas, e também “não pode ser considerada ciência, pois seus fenômenos, por não se repetirem metodicamente, não podem ser estudados”.

É óbvio que se trata de uma mera opinião manifestada por uma pessoa leiga, visto que nos dois casos – seja negando-lhe a condição de religião, seja negando-lhe a condição de ciência – o autor de semelhante ideia está totalmente equivocado.
O advento das chamadas ciências sociais deveria ser meditado por todos aqueles que gostam de dizer primeiro, para pensar depois, quando o correto, em qualquer setor de atividade humana, é, em primeiro lugar, pensar – e pensar bem – antes de emitir a nossa opinião.
As ciências de observação, como seu próprio nome indica, não operam como as ciências exatas, a exemplo da Física, da Química e da Matemática. O laboratório do Espiritismo e sua metodologia são necessariamente diferentes, e nem por isso perde ele sua condição de ciência, que efetivamente ele é. (1)
Se o leitor nutre alguma dúvida com relação a esse assunto, sugerimos que leia a entrevista publicada nesta mesma edição, a qual nos foi concedida por Otaciro Rangel Nascimento, doutor em Física pela PUC do Rio de Janeiro, atualmente professor e pesquisador no Instituto de Física da USP São Carlos.
Uma das perguntas propostas ao ilustre professor foi:  – Quais os principais pontos de ligação entre a ciência convencional, com suas pesquisas e busca do entendimento dos fatos na formulação de leis e princípios, e o Espiritismo?

Eis sua resposta:

“Já o disse anteriormente. Os pontos de ligação estão justamente nos métodos de análises utilizados por ambas. A Doutrina Espírita é uma ciência de observação e como tal não podemos ter domínio sobre os fatos, pois que os Espíritos têm vontade própria e não se submetem ao mando do cientista. Neste sentido ele é parecido com a Astronomia cujos fatos são observados, mas não realizados em laboratório, como outras áreas da Ciência material.”

Na resposta dada à pergunta subsequente, Otaciro Rangel afirmou:

“O estudo da Ciência e da Doutrina Espírita para mim são recursos educadores de minha alma. As estruturas de raciocínio lógico da Ciência e da Doutrina Espírita são equivalentes, e o entendimento de uma e outra me ajudam a viver com mais equilíbrio e serenidade. Saber-se imortal e saber que aprenderei sempre é uma grande felicidade.”

(1) Sobre o método adotado por Kardec na codificação da doutrina espírita, leia o editorial intitulado “A insensatez e seu antídoto”. Eis o link: http://www.oconsolador.com.br/ano3/122/editorial.html 

Matéria extraída da Revista Semanal de Divulgação Espírita: O Consolador 

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sábado, 19 de outubro de 2013

Casa Espírita Amazonas Hércules


Há 28 anos a serviço do próximo  
A instituição atua desde 1985 em Jacarepaguá-RJ, às 
margens do Canal do Anil

      Canal do Anil em 2009
Às margens do Canal do Anil, em Jacarepaguá, segue desde 1985 a Casa Espírita Amazonas Hércules, atendendo materialmente e espiritualmente aquela comunidade
“Como se vê, sofre os meus, sofre os teus, cuidemos deles são todos filhos de Deus.” Embalado por essa canção e por tantas outras, nos idos de 1990, as minhas manhãs de domingo eram presenteadas pelo trabalho do Canal do Anil, na então “Casa Espírita Filhos de Deus”, um casebre simples à beira de um rio já maltratado pela ação do homem, que surgia após quase dois quilômetros de caminhada em uma estrada de barro ladeada por palafitas simples.  
Ali trabalhei integrado à Mocidade Mariana do Centro Espírita de Jacarepaguá, a “Casa de Agostinho”, na evangelização de jovens e crianças da comunidade, alternando o evangelho a aulas de higiene, tudo com muita música e fraternidade.

     Festa de Natal na CEAH
Inspirados pelo exemplo de nossos dirigentes, Moacyr  e Isabel Cristina (Isabig), essa experiência tão marcante me levou a escrever, dez anos depois, o livro “Alegria de Servir”, publicado pela editora da FEB, que apresenta em uma breve historieta a importância da realização do trabalho social pelo jovem.
Já contextualizados do meu envolvimento com a casa e com a causa, vamos conhecer junto um pouco o trabalho e a história da Casa Espírita Amazonas Hércules. O nome da casa se deve ao seu idealizador, o companheiro Amazonas Hércules, um herói das lutas espíritas no hospital de hanseníase do Curupaiti, situado também em Jacarepaguá, à frente de outra instituição de nome similar, o Centro Espírita Filhos de Deus. 

           Estudo na CEAH 
Como era o trabalho nos primeiros anos – Fundada em 13/5/1985 com o nome de “Casa Espírita Filhos de Deus” por um grupo de pessoas abnegadas da região de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, o trabalho à beira do Canal do Anil consistia na palestra, na evangelização e na ação social no sábado à tarde, culminando com a famosa peregrinação, na qual os tarefeiros, destacando-se entre outros os amigos Vitor, Sérgio, Alípio e a Tia Terezinha, visitavam as casas com seu inseparável violão, oferecendo a palavra amiga e a oração, dentro daquela comunidade tão carente.
Nos meados de 1990, os dirigentes da Mocidade Mariana (já citados) do Centro Espírita de Jacarepaguá perceberam a necessidade de iniciar a vivência da prática da caridade entre os jovens. Moacyr, um dos dirigentes, trouxe a sua experiência com jovens no trabalho realizado em Rezende-RJ com os alunos da
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) e iniciou-se ali, de forma ousada e inovadora, um trabalho no domingo de manhã; e, após o trabalho, seguiam todos para o estudo na juventude, em uma fraterna caminhada ensolarada pelos quase dois quilômetros da Avenida Canal do Anil até o ponto do ônibus.

       Mocidade na CEAH
Inicialmente, o objetivo desse trabalho realizado pela juventude era despertar os laços de carinho pelas crianças, trabalhar o nosso coração. Não havia  planejamento, nós fazíamos simplesmente a recreação com música e brincadeiras. Com o passar do tempo, os laços se estreitaram e surgiu a necessidade de iniciar atividades com planejamento e foco na Doutrina Espírita.
Devido ao fato de a Casa ser um barracão de madeira que não comportava todas as turminhas, as atividades eram realizadas na calçada, ao ar livre,  ou ainda nas casas das crianças.  
A Casa Espírita Amazonas Hércules hoje – O trabalho foi amadurecendo, os trabalhadores também, e em 2007 aconteceu a união com as atividades que eram também realizadas aos sábados, integrando e fortalecendo aquela que deixava de ser apenas um posto avançado do Centro Espírita Filhos de Deus (Hospital do Curupaiti), para se tornar realmente uma casa espírita autônoma, incrustada naquela comunidade. 

Canal do Anil - Domingo manhã       
As carências de estrutura representam um capítulo à parte na história da Casa. A despeito das enchentes frequentes, em 1998 iniciou-se a construção de uma sede de alvenaria, que veio a ceder em 2000, como uma prova da resistência e fé dos trabalhadores. Posteriormente em 2002, no terreno ao lado do que cedeu, iniciou-se a construção da sede que está em uso atualmente, concluída em 2010. Com o desencarne de Amazonas Hércules, a casa recebe seu nome em uma justa e fraterna homenagem.
A Casa hoje funciona com ações sociais de cestas básicas e bazar, além da evangelização infantojuvenil (com atendimento fraterno), alfabetização de adultos, reunião de estudo doutrinário e de mediunidade, culto no lar e peregrinação, tendo cerca de 150 frequentadores, entre adultos e crianças.
Curiosamente, muitas daquelas crianças da década de 1990, e que eram alunos, hoje trabalham na casa e trazem seus filhos. Da mesma forma, alguns daqueles jovens da Mocidade Mariana se tornaram adultos atuantes no trabalho.
Mais do que uma casa espírita em uma comunidade materialmente carente, a Casa Espírita Amazonas Hércules representa o enlace de Espíritos no trabalho no bem, no amadurecimento na seara do Cristo. Uma geração ali cresceu e a comunidade entendeu que ali era mais do que um local de distribuição de cestas, e sim um espaço de emancipação na questão espiritual e de entendimento das questões da vida por outro prisma.  
A Casa cresceu com a própria comunidade – Da mesma forma, de maneira emblemática, o trabalho no Canal do Anil representa o resgate do trabalho de cunho social na seara espírita, em baixa cotação nos dias de hoje e que nos permite, com sua dimensão, mexer no nosso coração diante da dor material do próximo, em um exercício de caridade que nos amadurece para a vida mais além.
Apresentou esse trabalho também, a despeito do medo e das críticas, a necessidade de o jovem mergulhar de forma autônoma e protagonista na seara do bem, forjando em seu caráter aquele espírita amadurecido que promoverá outros trabalhos na fase adulta. Como diziam os dirigentes da Mocidade Mariana, se não rompermos essas dificuldades do trabalho no bem como jovens, como adulto o verniz e o papel social tornarão esse desafio muito mais complexo.
Além disso, a casa que cresceu com a comunidade (que se potencializou em função das ações da competição do Pan no Rio de Janeiro) representa um espaço de estudo e de trabalho no campo da espiritualidade daquelas pessoas, sendo um exemplo de iluminação, de respeito às peculiaridades do local e, ainda, de valorização das atividades educativas.
Reproduzindo as palavras do próprio Amazonas, saudoso companheiro, sobre o trabalho no Canal do Anil: “Reflitamos sobre a grande importância de cada trabalhador que aqui atua... O compromisso já existe e é preciso que vocês, ferramentas de trabalho, estejam atentos aos chamados. Contamos com a colaboração de cada um de vocês. Cada um aqui é um ponto de amor, de esperança e de luz”. Essas palavras nos remetem à existência de grande seara invisível às nossas mentes, ocupadas com coisas inúteis. Entretanto, a soma desses trabalhos, como pontos de luz, é que fazem do nosso céu estrelado, a guiar-nos pelas estradas da encarnação.

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil) 

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

“A resistência para acessibilidade na Casa Espírita é ainda grande”


A educadora fluminense diz que na questão da acessibilidade e no atendimento aos especiais há muito a ser feito no meio espírita

Isabel Cristina Melo (foto), radicada no Rio das Ostras-RJ, fala-nos nesta entrevista sobre sua larga experiência na educação das chamadas classes especiais e também da questão da acessibilidade nas Casas Espíritas e outros aspectos pertinentes à Educação Inclusiva que se observam na sociedade em geral.


Isabel, conte-nos um pouco de sua vivência espírita e de como ela cruzou os caminhos da educação especial.

Iniciei-me no Espiritismo pela dor, encaminhada por um senhor que me emprestou O Livro dos Espíritos. Nessa época eu era umbandista e, após alguns anos de leituras individuais, percebi que o Espiritismo me fornecia outras respostas, me permitia avançar nos questionamentos e me trazia um conforto grande. Optei por este último, mantendo um carinho e respeito grandes pela Umbanda. No movimento espírita, conheci o Centro Espírita de Jacarepaguá (Rio de Janeiro-RJ), no qual iniciei os estudos, e o Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo (também em Jacarepaguá). Essas duas instituições de trabalho no bem me possibilitaram conhecer o trabalho de Evangelização da infância e juventude, que se estenderam em participações no que atualmente denomina-se SAPSE nas comunidades de Vila Sapê e Anil, ambas em Jacarepaguá, Rio de Janeiro. Como professora, um dia fui convidada a atuar com as Classes Especiais/ DM (como era denominado na época). Apesar de não ter formação específica, aceitei o desafio e iniciei estudos para me adequar à nova demanda. Percebi uma identificação quase imediata e um bem-estar evidente com esse trabalho. A classe foi crescendo em qualidade graças ao apoio recebido da direção da escola e do Instituto Helena Antipoff, do Rio de Janeiro, ao qual serei sempre grata. Nos anos oitenta, a USEERJ convidou pessoas ligadas à questão do companheiro especial para um encontro em que seriam discutidas questões voltadas a ele, segundo a visão espírita. Foi memorável aquele dia. Voltamos para Jacarepaguá animados e, ao lá chegarmos, já definimos um encontro no Eurípedes para o outro dia e a partir daí foi iniciado um grupo de estudos de saudosa lembrança que resultou no Grupo Dona Meca (http://www.osdm.org.br/quem_somos.htm) e GAPEB (http://gapeb.com.br/), atuantes até os dias atuais.

Ainda que as últimas três décadas tenham trazidos avanços inestimáveis nas discussões afetas à inclusão e à educação especial no campo da educação formal no Brasil, essa discussão parece caminhar a passos lentos no movimento espírita, como comprovam seus artefatos (cursos, livros, eventos, seminários). Que fatores, em sua opinião, contribuíram para esse cenário?

Questão bastante complexa e delicada essa que você me coloca. Um dos aspectos que me chama atenção é que, independente de estar nas fileiras espíritas, o homem está ainda atrelado às questões que aliam a deficiência à punição nos seus mais diversos matizes. Mesmo cientes os espíritas de que Jesus apresentou-nos Deus como Pai de Justiça, e acima de tudo de Amor e Misericórdia, o primeiro qualitativo vinculado à punição parece falar muito mais alto ainda em nossas mentes. Tem-se ainda a cultura dos mais diferentes povos que reforça causas ligadas à punição divina. Tudo isso, a meu ver, atravessa os movimentos religiosos. A resistência para acessibilidade em Casas Espíritas é ainda grande. Poucas Casas têm tradução simultânea para Libras em suas reuniões públicas e as justificativas carecem de consistência. Livros espíritas em braile ainda são muito poucos (felizmente já vemos os audiolivros, que suprem de maneira razoável os companheiros com dificuldades visuais). Rampas nos prédios, reflexões acerca das possibilidades de crianças e jovens com comprometimentos intelectuais e de transtornos do desenvolvimento (TGD) frequentarem encontros de evangelização infantil e juventude de forma efetiva e real – essas são questões que o movimento espírita precisa refletir e discutir. Os Espíritos superiores deixaram questões de inclusão no Pentateuco. Precisamos sair das verdades parciais que nos mantêm na zona de conforto e avançar. A Doutrina Espírita tem uma contribuição notável a oferecer, quando o movimento espírita se abrir aos avanços em Educação Inclusiva que estão se observando na sociedade em geral.

A discussão da acessibilidade passa pela produção de livros em Braile (ou audiolivros), a tradução de palestras para Libras, além de banheiros adaptados e rampas, entre outras práticas. Em sua opinião, como estamos nesses quesitos no movimento espírita atualmente?

Temos avançado, mas de maneira muito tímida, como colocado acima. Estão aí várias obras subsidiárias de autores abalizados (como Nancy Puhlmann Di Girolamo) que oferecem ótimas oportunidades para sairmos dessa posição que não se coaduna com os ensinamentos espíritas, o que nos pede ação com responsabilidade.

A ideia da reencarnação, indicando um aspecto provacional na questão da deficiência, não deveria trazer para nós, espíritas, uma abordagem diferenciada da questão do especial?

Penso que sim, pois não importa se o companheiro ombreado conosco está em prova ou em expiação, mas sim que todos nós estamos reencarnados para progredir. Exemplos não nos faltam de trabalhadores que, ao se defrontarem com provas acerbas das mais diversas, apenas apoiaram o companheiro e seguiram aprendendo. O companheiro reencarnado na condição de deficiente sensorial, do intelecto ou com transtornos não necessita de análises sobre as causas de sua condição, mas de oportunidades de usufruir daquilo que a Doutrina Espírita traz e que nos proporciona forças para caminhar neste mundo de provas e expiações de maneira mais ou menos equilibrada. Por que aquilo que me consola e fortalece não faria o mesmo com esse companheiro, envolvido nessa prova? Dá para pensar...

O convívio da pessoa com deficiência na mesma sala de aula de evangelização com as crianças e jovens ditos normais é o suficiente para se efetivar a inclusão, ou é preciso de algo mais em termos pedagógicos?

Penso que é preciso iniciar abrindo as portas das Casas Espíritas para acolher esse irmão e suas famílias. É preciso vencer as próprias barreiras, deixar de buscar ancoragem em falas ditas espíritas que carecem de sustentação doutrinária e convidar essas famílias, pois a partir daí a demanda levará a equipe da Casa a buscar respostas às inúmeras dúvidas que chegarão. Se Nancy Puhlmann tivesse fechado as portas à primeira pessoa que chegou à Instituição Beneficente Nosso Lar em São Paulo, por faltar estofo teórico a esse acolhimento, provavelmente não seria para nós hoje um ponto de luz a assinalar com possibilidades para esse trabalho. E, ainda olhando para seu exemplo, a equipe de trabalho não ficou nesse primeiro passo; buscou alicerces teóricos sempre e cada vez mais atuais na ciência e na pedagogia. Vejo que após o primeiro passo, tanto para a Casa Espírita como para o companheiro especial que chega, é necessária a busca junto à literatura espírita e acadêmica para alicerçar cada vez mais essa prática, a fim de que ela não fique apenas em aproximação, que no cotidiano da Casa Espírita configura-se em algumas situações à criança ou o jovem tendo apenas o convívio social. A Doutrina Espírita nos afirma que somos todos Espíritos imortais, com bagagem de muitas vidas, com conhecimento acumulado. Vamos falar ao Espírito nos encontros de Evangelização, à centelha que brilha ali naquele irmão limitado na presente encarnação, e esses princípios, bem como muitos outros da doutrina, nos ajudarão a crescer dentro da decisão de dar acesso a ele. Na questão pedagógica, devemos ter atenção às peculiaridades dessa pessoa e da deficiência que o caracteriza nesse momento e de como a pedagogia tem contribuído para criar canais de comunicação efetivos com ele. Não se trata de um deficiente, mas primeiramente de uma pessoa que traz uma deficiência, o que determina diferenças consideráveis no olhar pedagógico.

A casa espírita deve se preparar para lidar com as diferenças ou deve se estruturar apenas diante dos casos concretos que adentram as suas portas?

Vejo que quando a Casa Espírita se prepara apenas para os casos concretos que chegam estará restringindo a acessibilidade e trabalhando de forma a “apagar incêndios”. Há que planejar para receber essas pessoas, assim como para todas as peculiaridades humanas (a pessoa idosa, a criança e o jovem especial, aquele que sofreu limitações sensoriais durante a vida física, a pessoa surdo-cega, a pessoa obesa ou tetraplégica...). Para isso há que buscar também os princípios do Desenho Universal, tecnologia que prevê espaços para todos. Entende-se por Desenho Inclusivo ou Universal um conjunto de preocupações, conhecimentos, metodologias e práticas que visam à concepção de espaços, produtos e serviços, utilizáveis com eficácia, segurança e conforto pelo maior número de pessoas possível, independentemente de suas capacidades.

Nas visitas assistenciais a instituições especializadas no atendimento a pessoas com deficiência, que reflexões podemos suscitar aos trabalhadores que participam dessas visitas?

O que me ocorria em algumas visitas que fiz foram: “Trata-se de pessoas em primeiro lugar!”, “Não tenha intenções de descobrir seu passado olhando esse corpo.”, “O que ele (a) espera de mim? Se eu residisse aqui, o que gostaria de receber nesta visita fraterna?”. Ocorria-me que eu estava entrando no lar que muitos daqueles companheiros conheceram nesta encarnação, e isto balizava as minhas ações ali. Penso ser necessário procurar também orientar os pensamentos de forma positiva e otimista, trocar poucas ideias com os companheiros de visitação para olhar e buscar estar com eles (as) naqueles momentos. Em momento posterior, se possível fora da instituição, analisar o trabalho junto à equipe, evitando especulações e elevando um pouco mais a qualidade dessa visitação. O preconceito em relação à pessoa com deficiência se materializa em palavras e gestos. De que forma o ensinamento cristão pode nos ajudar a combater esse preconceito? O Evangelho não nos diz para não ver, mas que se tenham olhos de ver. Quando deixamos de estudar na Casa Espírita e de refletir particularmente nesse e em outros ensinamentos do Mestre Jesus, podemos cair na falácia de ver o argueiro no olho do outro e esquecermos a trave no nosso olhar, de apontar o dedo em direção ao outro permanecendo confortáveis com os nossos defeitos morais que muitas vezes nos são tão agradáveis!
Conviver com o irmão especial de maneira a aprender com ele é nos defrontar (felizmente o tempo todo) com princípios como estes. Percebemos que o companheiro está em provas difíceis, mas essa análise não pode engessar o pensamento e a ação buscando justificativas que não se sustentam com o estudo doutrinário, reforçando atitudes puramente preconceituosas. Enquanto olhamos o outro, perdemos a oportunidade de nos examinar descobrindo pontos que precisam ser burilados através dessa e de outras atividades da Casa Espírita, que necessita de trabalhadores contentes!

Como palavras finais, que mensagem você gostaria de deixar para os que trabalham com a educação especial na seara espírita?

Que perseverem neste campo belíssimo de trabalho, buscando forças primeiramente no Cristo, que nos deu a oportunidade desta encarnação para que, através do livre-arbítrio, experimentássemos a bênção de aprender com o companheiro que um dia se encheu de coragem para retornar ao solo terreno e sabe no fundo de seu ser que necessita das mãos operosas, mas que também tem muito a ensinar. Somos parceiros nesta jornada. Ele não desistiu. Nós, de nossa parte, pedimos aos amigos espirituais que estejam conosco para conduzirmos este belo labor com toda a equipe de trabalho da Casa Espírita!

Marcus Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)  

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Em teologia não sejamos um moleque, saibamos, pois, o que é Filioque.


Os teólogos nunca falam em alguns dogmas em público, por serem polêmicos. E para eles, o zé povinho não precisa conhecer certas doutrinas, que são só para eles,  intelectuais e teólogos!
Tudo começou com o polêmico Concílio Ecumênico de Nicéia (hoje Isnique, na Turquia). Polêmico, porque os bispos participantes dele foram pressionados pelo imperador Constantino, com ameaças de exílio, torturas e morte, para quem não votasse na divinização de Jesus. Os ânimos estavam muito exaltados.
Alguns bispos foram acompanhados de seus seguranças armados. E segundo Helena Blavatsky (“Doutrina Secreta”), um bispo matou outro a chutes. Como se vê, os bispos estavam inspirados, porém, não por um espírito ou espíritos de Deus, mas por espíritos impuros, atrasados.
Com a vitória de Constantino, ou seja, a divinização de Jesus, foi também dado o primeiro passo para a criação da Santíssima Trindade, que recebeu impulsos nos Concílios de Constantinopla (381), de Éfeso (431), de Calcedônia (451) etc. Mas para os apóstolos e as primeiras gerações de cristãos, Jesus era um homem, o Messias, e não outro Deus. E eles não conheciam também a Santíssima Trindade, que não é doutrina da Bíblia, mas que foi acrescentada a ela, posteriormente.
E foi quase um milênio depois do Concílio de Nicéia, que o Concílio Ecumênico de Lião (1274), na França, criou mais outro dogma, o Filioque (expressão latina: “e do Filho”), que dá mais poder a Jesus, para enfraquecer os teólogos contrários à sua divinização. E como se sabe, na época, quem fosse contra um dogma, morria na fogueira da Inquisição. 
Os teólogos do Filioque defenderam a ideia de que o Espírito Santo procede de Deus, o Pai, e do Filho. Com isso, tentaram mostrar que Jesus é outro Deus Todo-Poderoso como o é o Deus Pai, introduzindo no Cristianismo o politeísmo. E a Bíblia é contra a divinização de Jesus: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão um só que é Deus.” (São Marcos 10: 18). “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.” (Efésios 4: 5 e 6). “Porquanto, há um só Deus verdadeiro, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem.” (1 Timóteo 2: 5). E “O Pai é maior do que eu.” (João 14: 28).
Jesus é Deus, mas relativo, como todos nós o somos também. (João 10: 34 e 35; e Salmo 82: 6), porém, Deus absoluto, incriado, é só o Pai. Aqueles que acham que Jesus é outro Deus, igual ao Deus Pai, se baseiam na afirmação de que Ele e o Pai são um. Mas Deus e Jesus são um em sintonia. E Jesus até nos convida para sermos também um com Ele e o Pai. (São João 17: 21).
Muitos católicos, protestantes e evangélicos, em silêncio, não aceitam que Jesus é outro Deus e, portanto, não aceitam também o dogma do Filioque.
E uma prova de que a divinização de Jesus é mesmo polêmica é que, oficialmente, a respeitada Igreja Ortodoxa Oriental (com cerca de 300.000.000 de adeptos), o Espiritismo e as demais religiões não aceitam que Jesus é outro Deus, a não ser relativo, e, consequentemente, não aceitam também o dogma do Filioque!

Na Rede Mundo Maior, por parabólica ou www.tvmundomaior.com.br,“Presença Espírita na Bíblia”, com Celina e este colunista, nas quintas-feiras, às 20h, e nos domingos, às 23h. Para suas perguntas e sugestões: presenca@tvmundomaior.com.br E, na Rede TV, o “Transição”, aos domingos, às 16h15 e à 1h45 das quintas-feiras.

Obs.: Esta coluna é de José Reis Chaves, às segundas-feiras, no diário de Belo Horizonte, O TEMPO, pode ser lida também no site www.otempo.com.br Clicar “TODAS AS COLUNAS”. Podem ser feitos comentários abaixo da coluna. Ela está liberada para publicações. Meus livros: “A Face Oculta das Religiões”, Ed. EBM (SP), “O Espiritismo Segundo a Bíblia”, Editora e Distribuidora de Livros Espíritas Chico Xavier, Santa Luzia (MG), “A Reencarnação na Bíblia e na Ciência”
Ed. EBM (SP) e “A Bíblia e o Espiritismo”, Ed. Espaço Literarium, Belo Horizonte (MG) –  www.literarium.com.br - e meu e-mail: jreischaves@gmail.com - Os livros de José Reis Chaves podem ser adquiridos também pelo e-mail: contato@editorachicoxavier.com.br e o telefone: 0800-283-7147.

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