terça-feira, 9 de abril de 2013

Teu sonho de moço


O cantor e compositor Marcus Viana, famoso pela composição de trilhas de novela, fez certa vez um CD homenagem ao livro psicografado sobre a encarnação de Francisco de Assis (Médium João Nunes Maia/Espírito Miramez). Esse CD dispõe de uma faixa chamada “A igrejinha de São Damião”, que entre as suas estrofes, nos diz: “Com o que o mundo abandonou, de cada pedra do chão, construo o templo do coração” e que ilustra bem a matéria-prima que devemos utilizar na construção de nossos sonhos.
Por seu turno, a singeleza dessa música nos lembra que buscamos por vezes, nessa época de celebridades, olhar apenas para as grandes personalidades, como foi Francisco de Assis e tantos outros Chicos que nosso planeta recebeu, famosos em suas grandes tarefas. Esquecidos ficamos das pequenas tarefas que compõem a jornada da comunidade de Espíritos que habita a Terra, onde nos afileiramos, ou ainda, de grandes e desconhecidas missões levadas a cabo por Espíritos de escol.
Cada qual segue com seu quinhão, com sua pequena missão, avançando como uma aposta de Deus, que deposita em nós a sua esperança de que aproveitemos cada oportunidade de reencarnação da melhor maneira possível. Para isso, recebemos talentos, que temos a missão de multiplicar pelo esforço de nosso trabalho, nos termos da já conhecida parábola evangélica.
Juntando cada pedaço de nossa história como Espírito, construímos uma nova vida de avanços e lutas, na encarnação que recebemos, customizada para as nossas necessidades espirituais.
Vem à tona nesse sentido o esquecido conceito de “completista”, enunciado por André Luiz na obra Missionários da Luz, quando define como: “(...) o título que designa os raros irmãos que aproveitaram todas as possibilidades construtivas que o corpo terrestre lhes oferecia”. Aproveitar as possibilidades é o mérito, o desafio posto!
Dessa forma, importa identificar na nossa vida, nos nossos sonhos de moço, o que nos cabe, quais as pequenas missões que nos foram atribuídas e por nós escolhidas como ferramentas evolutivas. E a partir daí construir estratégias que nos digam a melhor maneira de aproveitar as oportunidades de crescimento espiritual. Olhando para as nossas possibilidades, para as nossas necessidades e anseios, é possível traçar caminhos, e ousar.
Traçar caminhos implica necessariamente em reconhecer a nossa dimensão múltipla, de ser encarnado que necessita encarar o pão e o suor da labuta cotidiana, entre as alegrias e a inflação, mas de ser espiritual em evolução, que precisa crescer moralmente no convívio com os irmãos, relembrando as palavras de Jesus, quando nos mandava olhar os lírios do campo, com sua beleza e esplendor.
Nossos sonhos de moço, projetos de vida que indicam onde assentaremos cada tijolo da existência, devem considerar o nosso passado expresso em tendências e o futuro que nos cabe construir na encarnação em curso. É preciso sonhar, mas com a visão do Espírito, da pluralidade das existências, entendendo que Deus nos dá o que necessitamos, ainda que não tenhamos maturidade, por vezes, para entender isso.
Vivemos em algumas regiões do planeta uma época de farturas, de facilidades, de confortos, e a estabilidade social, em especial no Brasil, nos alimenta sonhos de consumo, de poder...
Esquecemos nos nossos sonhos de moço os ideais que nos indicaram na tenra juventude que um mundo melhor era possível, dentro da lógica que tornando o mundo melhor nos melhoramos, e vice-versa.
Sonhar é um atributo humano... E da nossa natureza espiritual também! Aponta-nos no imaginário o melhor que desejamos e o que é possível, diante da ousadia do impossível. Insta saber como sonhamos, baseados em que paradigmas de existência, e, ainda, se consideramos as peculiaridades de nossa encarnação, a nos sinalizar o que demandamos.
Assim, nas nossas reflexões, nas grandes inflexões da vida, nos planejamentos e balanços, devemos nos olhar na roupagem atual, com suas demandas, mas também na essência espiritual, que vestiu e vestirá outras indumentárias na fieira das encarnações. O segredo do sonhar é contrabalançar o desejo e a paciência, na virtude do caminhar seguro rumo aos ideais, construindo dia a dia o futuro que desejamos.
Encerramos assim essa reflexão, também sob os auspícios das produções sobre a passagem de Francisco de Assis na Terra, com a letra da canção “Devagar e com certeza”, versão bem difundida no movimento espírita da música, do cantor e compositor Donovan, chamada “Little Church”, oriunda da trilha sonora do filme “Irmão Sol, Irmã Lua”, produção inglesa e italiana de 1972, dirigida por Franco Zeffirelli:

“Devagar e com certeza se constrói um sonho.
Dos começos às conquistas, siga com firmeza.
Se você quer livre ser, faça seu segredo:
Poucas coisas, mas bem feitas, faça com alegria.
Dia a dia, pedra a pedra, faça seu momento.
O trabalho com alegria cresce com pureza.”

Eis ou não, nessas singelas palavras, um dos segredos da vida?

Marcos Vinícius de Azevedo Braga
acervobraga@gmail.com
Brasília, DF (Brasil)

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segunda-feira, 1 de abril de 2013

A Páscoa de Jesus


A morte de Jesus pode ser vista e interpretada de diversas maneiras. Na ortodoxia do cristianismo tradicional, é artigo de fé de que Jesus morreu para selar com o sangue a salvação da humanidade. Na teologia estabelecida por Paulo de Tarso, o homem pecou com Adão e redimiu-se com o Cristo. Não procuremos entender a racionalidade dessa doutrina: por um, todos caem; por um, todos se salvam… parece injusto e desproporcional. Carregamos todos o pecado de Adão e podemos ser salvos se acreditarmos em Cristo. Mas os artigos de fé das religiões em geral não pretendem ser racionais; aliás, a obscuridade e o mistério é que constituem o seu atrativo.
Para uma visão mais politizada, podemos dizer que Jesus foi um subversivo, pois era um crítico do clero judaico e alguém que emancipava consciências e por isso, como em todas as épocas e em todas culturas, não agradou a nenhum representante do poder. Judeus e romanos; Kaifás, Herodes e Pilatos se deram as mãos (ou lavaram-nas), para entregar Jesus à morte.
Numa perspectiva espírita, Jesus, que não é Deus, mas um Espírito que já alcançou um status de perfeição ainda distante de nós, sua morte representa o testemunho de um mártir, que nos deixou um modo de ser e estar no mundo – um modo amoroso, não-violento, cheio de compaixão e bondade. E coerente até o fim com essa ética, entregou-se à injustiça dos homens, para neles despertar o senso de justiça; aceitou a morte violenta, para demostrar a não-violência e o perdão. É aquele que toma sobre si amorosamente o ônus da ignorância humana, para mostrar-nos um caminho melhor. Nesse sentido, simbolicamente pode-se até concordar que ele é o Cordeiro de Deus, que toma sobre si os pecados do mundo. Não num sentido salvacionista, mas numa dimensão pedagógica, para ensinar como mestre, algumas lições tão inesquecíveis, que só poderiam ser seladas com o sacrifício de si e com a morte.
A morte de Jesus também é uma mensagem sobre a própria morte. Em todos os tempos, a finitude do homem o tem assustado. Por causa do medo da morte, criam-se as dominações religiosas; por sentir-se mortal, o ser humano se fragiliza, muitas vezes infantilizando-se diante de deuses opressores, de sacerdócios que lhe exploram o boa-fé ou aliena-se em doutrinas fanáticas e irracionais. Mais uma vez, lembrando Paulo, Jesus venceu a morte – não no sentido que os cristãos tradicionais entendem (como uma derrogação da lei natural, ressurgindo em corpo carnal) – mas no sentido de demonstrar praticamente que a morte é uma passagem natural, um atravessar simples e rápido para uma outra dimensão da existência e que não há nada a temer – muito menos devemos temer o nada! A naturalidade com que Jesus aparece para conversar com Madalena, com os apóstolos, com os viajantes de Emaús – é um testemunho histórico de que morto o corpo, o Espírito sopra onde quer e se manifesta com seu corpo espiritual, fazendo-se ver e tocar, deixando uma mensagem de eternidade.
Depois da tragédia da cruz, os açoites, o abandono dos mais queridos – que serviu para que o Mestre demonstrasse a força do perdão, da compaixão e da coragem – Jesus aparece aqui e ali e mostra-se imortal, inteiro, luminoso.
Essas são as minhas meditações de Páscoa, com os votos de que possamos meditar no exemplo ético de Jesus, seu amor universal, dirigido a toda a humanidade e a mensagem que nos deixou para sempre: a morte não existe, mas em toda parte há vida eterna, amor em abundância e misericórdia sem limites!

Dora Incontri
comment-reply@wordpress.com

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