Impressionante a atualidade e grandeza do texto que Allan
Kardec publicou em O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, no
subtítulo Ação da Prece. Transmissão do Pensamento. Para estudo individual ou
em grupo, para apresentação em palestras ou seminários ou para embasamento de
compactas ou longas abordagens, o texto é uma preciosidade e aborda a poderosa
ação da prece e da transmissão do pensamento.
O codificador inicia com a valiosa informação de que “as
preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução
das suas vontades (...)”, após ponderar que a prece coloca um ser em
comunicação mental com outro ser a quem se dirige, não importando se esteja
encarnado ou já tenha deixado o corpo pela desencarnação.
O caminhar didático do texto é suave, leve, proporcionando
como que uma aula útil e muito agradável para se aprender o mecanismo de
transmissão do pensamento na comunicação entre os seres. Para isso faz uma
comparação notável para entendermos a questão: “(...) é preciso mentalizar
todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que
ocupa o espaço, como o somos, neste mundo, na atmosfera. Esse fluido recebe um
impulso da vontade; é o veículo do pensamento, como o ar é o veículo do som,
como a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, enquanto que as
do fluído universal se estendem ao infinito. (...)”. O que ocorre, portanto, é
que “(...) estabelece-se uma corrente fluídica de um para o outro, transmitindo
o pensamento, como o ar transmite o som. (...)”.
A prece tem poderosa ação porque por ela atraímos o concurso
dos bons espíritos, que nos sustentam nas boas resoluções e nos inspiram bons
pensamentos, possibilitando-nos adquirir as forças morais para superação das dificuldades.
Não usá-la, conforme raciocínio de Kardec, é renunciar para sim mesmo e a
outros o bem que se lhes pode fazer, à assistência que todos podemos receber da
Bondade Divina.
E há uma advertência expressiva no texto, com outras
palavras e outro exemplo, mas que se pode resumir no exemplo de adversidades ou
doenças que podemos enfrentar, fruto ou não de excessos: temos o direito de
reclamar? E conclui a resposta de Kardec: “(...) Não, porque poderia encontrar
na prece a força para resistir às tentações (...)”. E podemos acrescentar,
inclusive à tentação da reclamação ou dos lamentos da revolta.
O texto ocupa três páginas do capítulo, com sábias
reflexões. Deixo ao leitor ir à fonte original para o prazer dessa leitura do
sábio e profundo texto. Mas concluo com dois pensamentos importantes ali
expressos, para ampliar a reflexão de todos nós:
a) No item 13:
“Acedendo ao pedido que lhe é dirigido, Deus frequentemente, tem em vista
recompensar a intenção, o devotamento e a fé àquele que ora, eis porque a prece
do homem de bem é mais meritória aos olhos de Deus, e sempre mais eficaz,
porque o homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que só é
dado pelo sentimento da verdadeira piedade. Do coração do egoísta, daquele que
ora com os lábios, não podem sair senão palavras, mas não os impulsos da
caridade que dão à prece todo o seu poder. (...)”;
b) No item 15: “O
poder da prece está no pensamento; ela não se prende nem às palavras, nem ao
lugar, nem ao momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em toda parte, em
qualquer lugar, a qualquer hora, sozinho ou em comum. (...)”.
Recomendo, com ênfase, ao leitor, ler o texto integral, até
para ampliar o assunto a respeito da prece com comum, reunindo várias pessoas e
seu extraordinário poder, mas também para tocar num ponto muito comum nos
relacionamentos humanos, quando ouvimos alguém pedir: “Ah! Ore por mim!”. A
lucidez de Kardec se faz presente: “(...) Isso é tão compreensível, que, por um
movimento instintivo, a pessoa se recomenda de preferência às preces daqueles
nos quais se percebe que a conduta deve ser agradável a Deus, porque são mais
ouvidos.”
O fato principal, contudo, fica no raciocínio de que diante
das dificuldades todas que possamos atravessar, das adversidades muitas vezes
inevitáveis, é preciso lembrar, entre outras situações de “(...) Se não
ultrapassarmos o limite do necessário na satisfação das nossas necessidades,
não teremos as doenças que são consequências dos excessos, e as vicissitudes
que essas doenças ocasionam. Se colocarmos limite à nossa ambição, não teremos
a ruína. Se não quisermos subir mais alto do que podemos, não temeremos cair.
Se formos humildes, não sofreremos as decepções do orgulho humilhado. Se
praticarmos a lei da caridade, não seremos nem maldizentes, nem invejosos, nem
ciumentos, e evitaremos as querelas e as dissenções. Se não fizermos mal a
ninguém, não temeremos as vinganças, etc. (...)”.
A prece é o grande recurso contra esses males que ainda nos sondam os passos.
A prece é o grande recurso contra esses males que ainda nos sondam os passos.
Orson Peter Carrara